Coisa de Acender

1992
“Coisa de acender” é o disco de Djavan mais marcado por parcerias. É nesse trabalho que ele inicia uma com Caetano Veloso, acalentada por tantos anos, que parecia já existir.

E o resultado, a canção “Linha do Equador”, justifica a expectativa. A letra de Caetano sobre a melodia de Djavan como se fosse uma letra do próprio Djavan, cheia de imagens inusitadas para descrever o amor, feita à maneira de Caetano repleta de referências modernistas e tropicalistas.

Mestre em letra e música, o músico alagoano se dá ao luxo, de alternar o seu trabalho nas obras coletivas: às vezes entra com a música, como em “A rota do indivíduo” (Ferrugem), outras vezes com a letra, no caso de “Alívio”, sua primeira parceria com o baixista Arthur Maia.

Aprofundando os laços com a filha Flavia Virginia, que está nos vocais em várias faixas, Djavan confia a ela a parte em francês da letra de “Andaluz”, canção evidentemente espanholada, de espírito globalizado.

Dos discos co-produzidos pelo americano Ronnie Foster, “Coisa de acender” talvez seja o mais cheio de nuances e sutilezas. Vai de uma canção super pop como “Se...”, o grande sucesso radiofônico do disco, à incursão do autor no universo dos desafios nordestinos em “Violeiros”, o gênero tratado com uma profundidade harmônica incomum.

Esse trabalho é, na verdade, um álbum de canções de amor, ou melhor, da busca de expressar o amor — tema de 98% das canções do mundo — de forma original.

Faixas como “Outono” e, sobretudo, “Baile”, de onde sai o enigmático título revelam o amor, visto pela ótica muito particular de Djavan.
Hugo Sukman
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